Guarapuava garante educação bilíngue a alunos surdos da rede municipal

24/04/2024 18H02

Em 23 de abril foi celebrado o Dia Nacional da Educação Para Surdos. Nesta quarta-feira (24), portanto, é o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ambas as datas comemoram as conquistas da comunidade surda e o reconhecimento da Libras. Garantindo acesso de qualidade a todos os alunos da rede municipal, em março deste ano, a Prefeitura de Guarapuava inaugurou a Escola Municipal Bilíngue de Instrução em Libras, Jaqueline Fontoura Santos. A instituição garante que, tanto alunos surdos quanto ouvintes típicos, adquiriram proficiência na língua de sinais e aprendam o português como segunda língua na modalidade escrita. 

“A educação bilíngue com instrução em Libras é fundamental para o desenvolvimento pleno das crianças surdas. Por meio da Libras, nossos alunos podem se comunicar livremente, desenvolver sua identidade cultural e aprender de forma significativa. Estudos comprovam que crianças surdas que frequentam escolas bilíngues de Libras apresentam melhor desempenho acadêmico, maior autoestima e melhores perspectivas de futuro. Acredito que todas as crianças têm o direito de aprender e alcançar seu pleno potencial. Para os alunos surdos, isso significa ter acesso a uma educação que seja acessível, relevante e inclusiva”, sublinhou a secretária de Educação, Rejane Corrêa da Luz.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que mais de 10 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência auditiva, sendo que 2,7 milhões possuem surdez profunda. O número corresponde a 5% da população brasileira. O Dia Nacional da Educação para Surdos foi celebrado nesta terça-feira (23). A data comemora as conquistas da comunidade surda no País e destaca a necessidade de lutar por melhores condições de vida, trabalho e educação. A escolha do dia foi uma homenagem ao nascimento de Ferdinand Berthier, educador surdo francês e defensor dos direitos das pessoas surdas.

Nacionalmente, o dia 24 de abril celebra a Língua Brasileira de Sinais. A data ficou marcada após a implementação da Lei nº 10.436/02, que reconheceu oficialmente a Libras como meio de comunicação. Com uma estrutura própria e gramática, a língua é classificada como uma modalidade gestual-visual, onde é possível se comunicar por meio de gestos, expressões faciais e corporais. As mais de 300 variantes da linguagem de sinais no mundo são responsáveis por boa parte da comunicação de surdos. Em 2021, a educação bilíngue, com instrução em Libras, se tornou uma modalidade de ensino independente e um direito garantido pela Lei de Acessibilidade. 

O Instituto Nacional da Educação de Surdos (INES), antigo Imperial Instituto de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, foi a primeira instituição de educação destinada a pessoas com deficiência auditiva. O espaço foi fundado em 1857 por Dom Pedro II e oferecia cuidado e educação aos surdos. Anos se passaram, e em março de 2024, Guarapuava foi pioneira no Paraná e inaugurou a primeira escola municipal bilíngue do Estado. 

A unidade, nomeada Jaqueline Fontoura Santos, homenageia a professora que dedicou mais de 30 anos de sua vida ao ensino, inclusão e envolvimento com a comunidade surda. Além de ter atuado na Escola Municipal São José, a professora prestou um papel crucial na abertura e implantação do Programa de Escolaridade Regular com Atendimento Especializado (PERAE). Ela morreu no dia 29 de novembro de 2023.

“O início da escola bilíngue tem sido uma experiência estimulante para muitos alunos e professores, além de ser uma conquista para a comunidade surda de Guarapuava. Os alunos estão mergulhando em uma jornada de aprendizado que expande não apenas suas habilidades linguísticas, mas também sua compreensão cultural e identitária. Os professores estão trabalhando arduamente para criar um ambiente acolhedor e inclusivo, onde todos os alunos se sintam capacitados a aprender e crescer. Este início da escola bilíngue promete ser uma aventura emocionante e enriquecedora para todos os envolvidos”, declarou a diretora da unidade, Eliane Valentim de Abreu. 

A unidade funciona em período integral, com as aulas pela manhã e oficinas diversas à tarde, e atende 19 alunos, sendo eles, surdos e ouvintes típicos. A instituição presta suporte a estudantes desde a educação infantil (Infantil 4 e 5) até o ensino fundamental (5° ano). Segundo Eliane, a Escolas Bilíngues capacita os alunos para comunicação eficaz em diversos contextos sociais, e é a chave para o desenvolvimento linguístico, cognitivo e cultural de crianças surdas. 

“A escola bilíngue desempenha um papel muito importante na educação de crianças surdas, oferecendo a oportunidade de adquirir proficiência na língua de sinais e aprenderem o português como segunda língua na modalidade escrita. Ao proporcionar um ambiente que valoriza e ensina tanto a língua de sinais quanto a língua majoritária do País, a escola bilíngue capacita as crianças surdas a se comunicarem efetivamente em diferentes contextos sociais. Isso não apenas promove o desenvolvimento linguístico e cognitivo das crianças, mas também fortalece sua identidade cultural e autoestima”, completou a diretora. 

A Escola Municipal Bilíngue de Instrução em Libras é uma unidade de ensino regular e segue as diretrizes curriculares do Município. Portanto, todo o conteúdo que é ensinado na Libras é um componente curricular diversificado e é aplicado com a Língua Portuguesa escrita. O modelo de ensino garante ainda, que os estudantes tenham momentos de socialização com os alunos ouvintes típicos da escola vizinha. Desta forma, eles participam das refeições, recreio e algumas oficinas em conjunto.

“O início do ano letivo na escola bilíngue é um sonho realizado. Saber que meu filho está tendo estudo de qualidade em uma escola com Libras todos os dias, tendo contato com as crianças surdas todos os dias e socializando também com os alunos ouvintes, é maravilhoso e muito importante nessa fase de aprendizado. Ele está se desenvolvendo e aprendendo da forma que entende e sem nenhuma dificuldade. Isso é muito importante para o seu crescimento, pois sei que ele pode buscar o conhecimento que quiser”, contou Ana Cristina Fresky Camargo, mãe do pequeno Guilherme Horst. 

“Na escola bilíngue eu sinto que finalmente pertenço. A Língua de Sinais é minha voz e aqui eu sou compreendida”, sinalizou a aluna Maria Cecília. 

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